CAPOEIRA: PATRIMÔNIO IMATERIAL DE
PERNAMBUCO EM SALA DE AULA
Lucas Rodrigues Pereira da Silva
Jessika Lima Costa
O presente trabalho
mostrará a importância de abordar capoeira em sala de aula, pois é sabido que a
capoeira é patrimônio imaterial do Brasil, entretanto, apenas este
reconhecimento não é o suficiente para que o aluno a conheça bem, é necessário
mostrar suas origens e sua grande importância para a cultura do país, para tal
é necessário fazer com que o aluno olhe a capoeira não somente como uma arte
marcial, mas também como uma maneira de um povo se identificar e se defender.
É preciso salientar ao
aluno que a capoeira mesmo possuindo raízes africanas é uma dança genuinamente
brasileira, sendo assim torna-se importantíssimo mostrar ao aluno como surgiu a
capoeira. A capoeira tem suas raízes em Angola, no ritual de passagem para a
vida adulta, os homens de algumas tribos participavam de uma dança com o
objetivo e tocar a cabeça de outro homem com os pés; estes costumes chegaram ao
Brasil pelos angolanos Os escravos eram proibidos de praticar qualquer
tipo de luta, sendo assim, constantemente eram vítimas dos feitores e capitães
do mato, mas o que era uma dança acabou-se tornando uma luta; disfarçadamente
os escravos praticavam uma dança em terrenos que ficavam mais afastados das
senzalas, eram conhecidos por "capoeira", que mais tarde daria
nome a luta. Mas a capoeira demorou bastante tempo para ser reconhecida, até o
século XIX a prática era considerada um crime, a capoeira não era praticada em
ambientes fechados, mas sim nas ruas e praças, o que acabava em brigas com a
polícia, maculando ainda mais a imagem da capoeira; entretanto, com a chegada
das artes marciais orientais, a capoeira sofreu algumas mudanças, agora a
capoeira começava a ser praticada em ambientes fechados, criaram-se academias
para a prática da luta. Muitos mestres lutaram para o reconhecimento da luta,
um deles, mestre Bimba, mostrou ao então presidente Getúlio Vargas a dança, o
presidente ficou achou a dança muito bonita e a considerou como uma arte
marcial puramente brasileira.
A partir desta
explicação o aluno perceberá que a capoeira tem suas raízes em Angola, ou seja,
em apenas um país de todo o continente africano, quebrando o velho estereótipo
de que a capoeira é conhecida em todo território africano; além disto, o aluno
perceberá que, antes de receber o nome que tem, a capoeira era apenas uma dança
ritualística que marcava a passagem do homem para a vida adulta, a partir
destes dados o professor pode elaborar atividades com aluno para que o mesmo
mostre as diferenças entre a dança feita em Angola e feita no Brasil, elencando
seus diferentes objetivos; após esta atividade os alunos poderão expor aos
colegas a opinião de cada grupo sobre o tema. Em seguida o professor pode
organizar uma roda musical com os instrumentos musicais usados na capoeira,
podendo explicar também a origem de cada instrumento.
O professor também
pode propor uma atividade mostrando como a capoeira é vista hoje em dia, quais
preconceitos a acometem, e como ela vista na sociedade, o aluno pode fazer
perguntas em sua casa e trazer as respostas para a sala, assim terá uma nova
discussão sobre o tema, assim o aluno entenderá por quais motivos a capoeira é
mal vista por uma boa parte da sociedade. O professor pode pedir para que os
alunos discutam sobre a capoeira na comunidade, se há rodas com frequência e
como a comunidade ver a capoeira. Para finalizar a atividade pode ter uma
atividade extraclasse, os alunos poderão organizar rodas no pátio da escola,
fazer oficinas com instrumentos musicais e também organizar uma sala de vídeo
com documentários sobre a capoeira. Logicamente estas atividades não darão fim
ao preconceito, mas farão com que muitos alunos tenham um novo olhar com
relação a capoeira, sendo assim, fazendo com que tenham um senso crítico maior
com relação a assunto voltados à África.
De acordo com a Lei nº
10.639/03, torna-se obrigatório a inserção da temática cultura Afro-brasileira
no ensino de História nas escolas, tanto públicas como privadas, pois se torna
impossível compreender a história do Brasil sem conhecer a diversidade cultural
que esteve presente em todo o processo de formação do país, principalmente com
relação aos negros da África, os angolanos no caso da capoeira, que tiveram um
papel de grande importância na nossa história. É devido ao que a capoeira
representou que ela torna-se um meio de socialização e educação, pois além de
ser uma dança, arte, luta, ela faz parte da nossa história, transmitindo
aspectos culturais dos africanos. Os conteúdos da capoeira são de grande
importância dentro do âmbito escolar, pois ajudam na formação de seres humanos
capazes de lidar com as diferenças, aplicando conhecimentos amplos da cultura
popular, resgatando a história e influência do negro na manifestação da cultura
brasileira. Pode-se trabalhar, por exemplo, dentro do contexto histórico da
escravidão, com seus costumes e tradições culturais dos povos africanos dentro
do contexto da América Portuguesa e como isso se reflete nos dias atuais, temas
como os Navios Negreiros, Abolição, Quilombos, relações de poder entre os
escravos e donos de engenho e muitos outros. A capoeira nas escolas, em
especial na disciplina de história procura privilegiar os valores éticos e
estéticos dentro da proposta educativa, esta metodologia de ensino estimula os
alunos ao aprendizado, considerando a capacidade de formação de pessoas
críticas e conscientes de sua própria história.
A capoeira como tema
da cultura afro-brasileira é inserida no ensino de história nas instituições de
ensino colabora para uma educação contra o preconceito e consequentemente a
construção de uma sociedade mais democrática para todos, que reconheça e
respeite a diversidade. Portanto é necessário repensar o ensino de história
neste âmbito, podendo contribuir para essa discussão a fim de dar maior
visibilidade à participação e contribuição dos negros no processo de formação
da nossa sociedade. A capoeira possibilitará aos alunos o conhecimento da
história dos africanos e seus descendentes, e ao mesmo tempo desprendendo da
presente segregação racial tão enraizada em nossa sociedade, sustentando o
preconceito e a desigualdade.
Referências
História da Capoeira, disponível em:
Capoeira/História, disponível em:
http://www.suapesquisa.com/educacaoesportes/historia_da_capoeira.htm.
LISBOA, Magno da Nóbrega, SILVA, Alcione Ferreira. As contribuições da capoeira para o ensino de história e cultura Afro-brasileira, apud. Cadernos penesb - periódico do programa de educação sobre o negro na sociedade brasileira - FEUFF (N.7) (novembro 2006) rio de janeiro/niterói - quartet/eduff, 2006.
LISBOA, Magno da Nóbrega, SILVA, Alcione Ferreira. As contribuições da capoeira para o ensino de história e cultura Afro-brasileira, apud. Cadernos penesb - periódico do programa de educação sobre o negro na sociedade brasileira - FEUFF (N.7) (novembro 2006) rio de janeiro/niterói - quartet/eduff, 2006.
SANTOS, Isabele Pires.
As contribuições da capoeira para o ensino de história e cultura
afro-brasileira, apud. Cadernos penesb -
periódico do programa de educação sobre o negro na sociedade brasileira - FEUFF
(N.7) (novembro 2006) rio de janeiro/niterói - quartet/eduff, 2006.
Caros,
ResponderExcluirMuito pertinente a reflexão por vocês proposta.
Entretanto, a inserção da capoeira - no ensino de história, pode ultrapassar a questão da Lei nº 10.639/03, que torna obrigatório a inserção do debate sobre cultura afro. A capoeira enquanto patrimônio imaterial brasileiro abre um amplo espectro sobre a Educação Patrimonial - tema transversal que, para muitos grupos de professores e professoras é um tema que deverá ser trabalhado por todos (entenda-se: todos, menos eu!!!).
Reduzir o preconceito é um excelente objetivo, mas a abertura para a discussão dos saberes enraizados na capoeira (estilo musical, instrumentos e a confecção destes, entre outros) proporciona que os alunos e alunas percebam muitos outros saberes da cultura afro, abrindo uma ilimitada fonte de discussões e, desta forma, tornando mais significativa a apropriação dos conhecimentos, pois como afirma o prof Mario Chagas (2002, p.46) "dirigir-se ao passado, sem nenhuma perspectiva de mudança, implica a comemoração da ordem estabelecida, a afirmação da ordem jurídica, dos valores culturais dados, da verdade científica imposta, a repetição do conhecimento.”
Para vocês, como pode e, se pode, como deve, ser utilizado o recurso pedagógico "capoeira" para a construção e percepção dos elementos culturais afro na atual composição étnica brasileira, além da questão trivial do "jogo de capoeira"?
Eduardo Alexandre Louzado
Fonte:
CHAGAS, Mário de S. Memória e poder: dois movimentos. Cadernos de Sociomusologia, nº 19. Centro de Estudos de Sociomuseologia. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2002. p. 35-67.
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ResponderExcluirOlá pessoal, na realização de uma roda musical como exposto no texto, seria possível trabalhar, além da origem dos instrumentos, as letras das músicas para contextualização?
ResponderExcluirJúlia Helane Assis da Silva
Oi, Lucas e Jessika!
ResponderExcluirGostei da proposta de vocês do uso da capoeira como ponte para identidade, empatia e construção de saberes históricos outros que ampliam o que foi limitado no ensino de história nas escolas brasileiras durante muito tempo.
Gostaria de saber se vocês enquanto docentes e/ou estudantes de licenciatura já trabalharam com essa proposta em alguma escola e se sim, como foi a experiência.
Cordialmente,
Graziella Fernanda Santos Queiroz
Olá Lucas e Jessika, sou de Salvador- Bahia e moro na rua onde o Mestre Bimba teve um espaço onde ensinava a capoeira inclusive tive a oportunidade de praticar a luta com um dos seus filhos, O Mestre Nenel e um dos seus alunos o Mestre Bozó. Tratar da capoeira na sala de aula é muito rico para a disciplina História porque nos possibilita discutir a resistência cultural e as estratégias de inserção social pelos negros no pós abolição assim como a aproximação de políticos como os "capoeiras" visando proteção. Para contribuir com a sua pesquisa lhe sugiro o documentário Mestre Bimba: capoeira iluminada https://www.youtube.com/watch?v=INhSuNR_iuE e os livros Capoeira Escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro - Carlos Eugenio Libano Soares e O Jogo da Dissimulação - Wlamyra dos Reis Albuquerque que traz um capitulo dedicado a relação dos capoeiras com os defensores da monarquia. Abraços.
ResponderExcluirFabiano Moreira da Silva - Salvador Ba
Boa noite,
ResponderExcluirAbordando a temática da capoeira, um assunto que vem chamando atenção ( e bastante preocupante ao meu ver) é a esportivização da capoeira. Desta forma, gostaria de saber a opinião de vocês sobre tal ação, quais implicações tal fato pode ocasionar frente a preservação deste patrimônio brasileiro que tanto nos ajuda a entender sore nossa história (notadamente a parcela da cultura africana).
Cordialmente,
Flaviano Oliveira dos Santos.