Sueli de Fátima e Mario Martins

PROFESSORES DE HISTÓRIA NOS ANOS INICIAS: DIFERENTES ESPAÇOS E TEMPOS DE FORMAÇÃO

Sueli de Fátima Dias
Mario de Souza Martins
      


Nesse estudo que integra a pesquisa intitulada Ensino de História nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: Relações da Formação Continuada dos Professores, desenvolvida no curso de Pedagogia da UNICENTRO-UAB, no ano de 2014 e 2015, propusemo-nos a conhecer como discussões, que devem parecer mais cotidianas aos formados em história, chegam ao professor que ministra a disciplina para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, mas teve uma formação inicial baseada em cursos de Pedagogia, Normal Superior ou outra licenciatura.

Partimos indagando - como os professores de formação diversa da área da história acompanham e participam das discussões acerca do ensino da disciplina?  E nessa problemática percebemos uma oportunidade de diálogo e reflexão da prática dos docentes, dos tempos e espaços de formação a que tem acesso a das identidades que constroem.

O trabalho desenvolveu-se nas escolas municipais da cidade de Apucarana - PR realizando interlocuções com professores que atuam nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental da rede pública. Selecionamos 5 dentre as 36 escolas do município estabelecendo o critério de participação para professores que executam docência nos Anos Iniciais e têm formação adversa da área de história. Esse requisito ajudou a selecionar sujeitos que supostamente não tiveram contato ou aprofundaram especificidades da docência em história na formação inicial.  Assim, interagimos com 21 professores que, na sua maioria, desempenham atividades com 3º, 4º e 5º Ano, ministrando todas as disciplinas como matemática, língua portuguesa, ciências, geografia e história.

Destes, 90% fizeram o Ensino Médio profissionalizante no curso de Formação Docente e quanto ao Ensino Superior 42% são formados em Pedagogia, 9% em Normal Superior e 33% em outras licenciaturas como Ciências Biológicas, Matemática e Letras, mas há, também, pelo menos 9% formados em outros cursos acadêmicos que não habilitam em licenciaturas, como Administração de Empresas, Serviço Social e Comércio Exterior. Desse universo e diversidade de sujeitos surgiu a necessidade de distinguir a formação de professores.

Para atuar na Escola Básica, conforme a Lei nº 9.394 de 1996, é preciso formação específica. Para os Anos Iniciais, compreendendo a docência do 1º ao 5º Ano aceita-se a formação em nível médio, mas admite-se preferencialmente formação em Pedagogia ou outra licenciatura. Já, para os Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio exige-se licenciatura plena em cada área exclusiva do conhecimento.

Dentre os professores com os quais interagimos 47% afirmam que as contribuições mais efetivas para sua atuação nas aulas de História advêm da formação inicial. Também reafirmaram, em diversos momentos, a carência de formação continuada na área, seja por meio de temas e conteúdos comuns ou metodologias para a sala de aula. Indicam que este deve ser um processo sistemático e organizado pelas instituições a que estão ligados, garantindo assim, maior possibilidade para acompanhamento das discussões e reflexões da área.

Quanto à formação inicial, mesmo no curso de graduação específico, conforme Fonseca (2006) as discussões acerca do ensino de História não são unanimidade, pois muitos ingressam vislumbrando a pesquisa como carreira profissional. No entanto, também não são poucos os acadêmicos que, movidos por intenção ou por apelo do mundo do trabalho, têm no magistério seu horizonte profissional. Dessa forma, ainda há elementos da formação de professores a ser intensificada no próprio curso de graduação e tanto quanto para os demais cursos como Pedagogia, ou até mesmo a Formação Docente no Ensino Médio onde a temática possivelmente não ocupa mais que o tempo e espaço de uma disciplina.

Nesse contexto, surgem inúmeras questões para análise que se estendem de como e com quê o professor pode ensinar até como o aluno aprende. Zamboni (2005) destaca que há aí, uma discussão de fronteira para as áreas da Educação e da História e, portanto, não se define o lugar das discussões de demandas que envolvem o fazer e o pensar do professor de história. A situação é tanto maior para os docentes que atuam nos Anos iniciais do Ensino Fundamental. Uma demonstração desse panorama está no desenvolvimento das pesquisas de pós graduação. Grande parte das dissertações e teses que abordam o ensino de história e elementos como a formação de professores são executados nos Programas de Educação. São, ainda, poucos os programas de pós graduação em história que ofertam linhas de pesquisa relacionadas ao processo ensino aprendizagem e docência da disciplina.

Esta situação pode ser muito positiva porque tem a faculdade de demonstrar que o ensino de história não tem uma guarda, não está sob a tutela de um curso ou grupo de pesquisadores. Não tem tutoria ou apropriação de um departamento acadêmico, antes disso, pode ser uma discussão ampla e aberta que qualifica o tratamento das questões educacionais, como destacou Fonseca (2010) no rigor de uma cultura complexa e plural.

Mas, para o professor que atua nos Anos Iniciais há carência de estudos que abordem possíveis lacunas da formação inicial e que ofereçam compreensão sistemática das questões de ensino e aprendizagem da disciplina. Oliveira (2003, 2010) reconhece esta realidade e considera certa dualidade entre historiadores e pedagogos ao afirmar que

Quando historiadores são questionados em sua competência pelos pedagogos (visto que as licenciaturas em história não habilitam para o magistério nas séries iniciais do Ensino Fundamental). Caso sejam pedagogos, as pedras são lançadas por historiadores (visto que a graduação em Pedagogia não aborda questões consideradas fundamentais para os historiadores) (OLIVEIRA, 2003, p. 264)

A autora afirma ainda que o pesquisador dessa área nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e no processo de ensino e aprendizagem como um todo, constrói-se como um "ser híbrido", pois não existem "pesquisadores-historiadores-puros", tampouco "pesquisadores-pedagogos-puros". Reconhece o diálogo e interação científica como possibilidade para instrumentalizar o trabalho do professor visto que, também "não há saberes pedagógicos sem conteúdos específicos e, não há conteúdos específicos que possam ser transmitidos sem os saberes pedagógicos" (OLIVEIRA, 2003, p. 264).

Os professores esperam dessa interação, pois relatam que mesmo com o domínio de saberes advindos com a prática e trabalho com a infância, a docência na disciplina de história exige domínios conceituais e tratos pedagógicos com fontes e documentos que passam muito pela formação específica do historiador. Em nosso estudo, 80% dos participantes apontam que a maior dificuldade que encontram no cotidiano da disciplina é a falta de materiais, 61% citam a falta de formação específica do professor, 42% destacam o acúmulo de conteúdos e 33% ressaltam a dificuldade de aprendizagem dos alunos, especialmente a partir da leitura e interpretação de textos.

Estas dificuldades devem ser consideradas como propositoras de programas e processos de formação continuada para os professores que atuam nos Anos Iniciais. Para Ricci (2011), nas décadas de 1990 e 2000, iniciou-se uma construção na formação do professor, na área de história, instrumentalizando-o nas articulações com a Psicologia, em estudos piagetianos e elaboração de conceitos de aprendizagem. As contribuições se deram mais no campo da compreensão das temporalidades e causalidade histórica. Já, na primeira década do século XXI, para a autora, percebe-se maior preocupação com a estrutura do pensamento a ser desenvolvido nas aulas de história, surgindo a expressão "letrar em História" (RICCI, 2011, p. 36).

As dificuldades relatadas pelos sujeitos que participaram desse estudo,  também se relacionam com as orientações para a organização dos planos de ensino e trabalho docente. Estas também vieram de um processo de transformações, pois no anseio de romper com a divisão tradicional de conteúdos determinada pelos Estudos Sociais (os círculos concêntricos), a partir da década de 1990, surgiram propostas articulando as mudanças e permanências e rompendo com o consenso de progresso contínuo da sociedade. Porém, os professores relatam que conheceram e usaram estes documentos e tiveram dificuldades para interpretá-los sem o apoio da formação específica que trata do método e concepção epistemológica da História.

Para o Estado do Paraná, o documento que norteou a ação dos professores, em 1990, foi o Currículo Básico do Paraná. Ele privilegiava a implantação do Ciclo Básico de Alfabetização, mas contribuía com uma nova seleção de conteúdos de história especificando tempo e espaço do evento histórico a ser abordado em sala de aula. No final da década, em 1997, as orientações vieram dos Parâmetros Curriculares Nacionais que foram amplamente utilizados nos planos de ensino. Contribuíam com a perspectiva de organizar a disciplina por eixos temáticos, mantendo organização cronológica e linear dos conteúdos. Oliveira (2010, p.123) considera que as principais críticas dos professores em relação aos PCNs devem-se ao seu caráter impositivo, ao "esvaziamento do conteúdo, ou com a dificuldade que os mesmos tiveram em elaborar um rol de conteúdos a partir dos eixos propostos."

Os livros didáticos, especialmente os analisados e indicados pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) conforme destaca Fonseca (2010), a partir de 1993 buscaram acompanhar tais mudanças, mas reconhecemos que apenas a oferta de material, ainda que, os manuais sejam sustentação e subsidiem a prática, não suprem plenamente a carência de formação do professor.
Cainelli (2010) reconhece esta complexidade do trabalho do professor dos Anos Iniciais em selecionar conteúdos e o quanto ele precisa do apoio do livro didático. Enfatiza que, nas últimas décadas, os conteúdos tradicionais têm se diversificado com a introdução de novos objetos e temáticas de estudo como as identidades, mulheres, crianças, religiosidade, além de questões relacionadas à estrutura do conhecimento histórico como documentos e fontes. Esta diversificação é parte do processo de compreensão da função da história que, como destaca Rüsen (2001) deve apontar para a realidade e vida cotidiana dos sujeitos.

É preciso apoiar e subsidiar o professor em sala de aula em formação permanente para que seu trabalho tenha uma aprendizagem significativa que, conforme Barca (2009) seja de diálogo entre o evento histórico e os sujeitos que o observam, levantando hipóteses, compreendendo diferentes perspectivas de tempo e espaço e produzindo suas próprias narrativas. A autora, ao defender a Educação Histórica e a formação da consciência histórica como possibilidade de ensino e aprendizagem, parte da realidade portuguesa e pode nos auxiliar ao considerar que as respostas
às exigências do conhecimento e de uma sociedade de informação só poderá processar-se com professores conscientes de tais problemáticas. (...) Precisamos de preparar professores em quadros científicos actualizados. Seria útil que os professores experienciem a pesquisa histórica e, com base nela, aprofundem o debate em torno de conceitos inerentes ao saber histórico (BARCA, 2001, p.20)

Estas também são as necessidades que ressaltamos para a formação de professores, especialmente após a interlocução que realizamos. Os sujeitos que investigamos afirmam que consideram a disciplina de história de fundamental importância na formação dos alunos. Dizem se "encantar pela oportunidade de reflexão e crítica que a disciplina oferece (P12)" e que os estudantes também apreciam a experiência.

Quando ouvidos, os professores unidocentes citam uma tensão maior na tarefa de selecionar os conteúdos contemplando as Diretrizes e os demais documentos norteadores das práticas para a disciplina de história, que na ousadia de experimentar novas linguagens e metodologias para a sala de aula. Sugerem propostas de acompanhamento de seus trabalhos solicitando temáticas da história do Estado do Paraná, da história local e do trabalho com as identidades sociais como mulheres, crianças, idosos, indígenas regionais e cultura africana. Assim, reconhecemos a pertinência da formação continuada e nos apoiamos em Oliveira (2010, p. 60) ao considerar que "o que alimenta esse discurso em torno das "lacunas" é não termos uma concepção clara do significado, quanto à forma e ao conteúdo, do que seja ensinar História na escola para crianças."
Os professores acreditam e esperam na contribuição da formação continuada e organizá-la de modo significativo deve ser responsabilidade de todas as áreas envolvidas, como a pedagogia e a história, mas também de políticas de formação de professores que o tratem como sujeito de direitos e saberes, entre os quais o de estudo, trabalho e análise de sua função social.

Considerações finais

Nesse estudo percebemos, ainda com maior evidência, a necessidade da formação continuada para os professores unidocentes dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, que ministram aulas de história. Destacamos que os professores reconhecem a importância e contribuição da disciplina na formação humana e científica daqueles que iniciam sua vida escolar, mas sentem dificuldades na seleção de conteúdos e no domínio de conhecimentos que, possivelmente estão na esfera da formação específica do graduado em história.

Os professores citam a falta de material e buscam nos livros didáticos a maior sustentação para seus trabalhos, mas com a incorporação de novas temáticas nem sempre contempladas nos textos tradicionais, como a história das mulheres, das crianças, da cultura e identidade local, por exemplo, sentem certa tensão. Esta realidade precisa ser discutida, analisada e, conforme Barca (2005, p.23) tratar a formação de professores como responsabilidade compartilhada.

Mesmo que os professores verbalizem seus anseios de formação em subsídios para melhor abordar temas como a história do Estado ou do Município, os paradigmas apontam para algo ainda mais substancial como a formação da consciência histórica e aprendizagem de sua construção, ou seja, aprender a pensar historicamente.

No decurso do movimento de repensar o ensino de história acena-se para resignificar sua função e a ação dos seus sujeitos. Assim, diante da responsabilidade compartilhada entre a pedagogia, história e a estrutura que deve ser oferecida por secretarias e instituições onde se concentram os professores dos Anos Iniciais, é imprescindível interação e objetividade para que a formação continuada seja o alicerce de quem inicia nossos pequenos na aventura de desvendar o mundo. É nessa circunstância que os professores acreditam ser possível acompanhar e participar das discussões acerca do ensino de História.

Referências

ABUD, K. Combates pelo ensino de história. In: ARIAS NETO, J. M. (Org). Dez anos de pesquisas em ensino de História: VI encontro nacional de pesquisadores de ensino de História. Londrina: AtritoArt, 2005. p. 50-55.
BARCA, I. Educação histórica: uma nova área de investigação. Rev da Faculdade de Letras - História. Porto, III série, vol 2, 2001, p. 013 – 021
BITTENCOURT, C. M. F. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.
CAINELLI, M. R. O que se ensina e o que se aprende em história. In: OLIVEIRA, M.M.D. (coord). História: Ensino Fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2010. Coleção Explorando o ensino, vol-21.
FONSECA, S. G. Didática e prática de ensino de História: experiências, reflexos e aprendizados. Campinas: Papirus, 2006..
______. A história na Educação Básica: conteúdos, abordagens e metodologias. In: Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento - perspectivas atuais. Belo Horizonte, novembro de 2010. Disponível em
OLIVEIRA, S. R. F. O ensino de História nas séries iniciais: cruzando as fronteiras entre a História e a Pedagogia. In: História & Ensino: Revista do Laboratório de Ensino de História da UEL. V. 9. Londrina: EDUEL. 2003. p. 259-272
______. A progressão do conhecimento histórico na escola. In:FONSECA, S.G.: GATTI JUNIOR, D. Perspectivas do ensino de história: ensino, cidadania e consciência histórica. Uberlândia: EDUFU, 2011. p. 57-66.
RICCI, C. S. O ensino de história nos primeiros anos de escolarização: saberes e fazeres. In: FONSECA, S.G.: GATTI JUNIOR, D. Perspectivas do ensino de história: ensino, cidadania e consciência histórica. Uberlândia: EDUFU, 2011. p. 33-43
RÜSEN, Jorn. Razão Histórica: teoria da história: fundamentos da ciência Histórica. Editora Universidade de Brasília, 2001.
SCHMIDT, M. A.; CAINELLI, M. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2004.
VASCONCELLOS, M. M. M. Ensino de História: concepção e prática no ensino médio. In: BERBEL, N. A. N. Metodologia da problematização: fundamentos e aplicações. Londrina: EDUEL, 1998. p. 75-115.

ZAMBONI, E. Digressões sobre a educação e o ensino de história no século XXI. História e Ensino. Londrina, v.11, p. 07-22, jul. 2005.

12 comentários:

  1. Juliane Robles Costa do Nascimento7 de março de 2016 às 15:03

    Boa noite,

    Analisando as pesquisas realizadas e citadas acima, será que não está na hora dos próprios docentes buscarem por uma especialização para que seu trabalho seja cada dia melhor? Não apenas para cumprir uma exigência feita pelas instituições escolares, mas para que os alunos que são nossos "alvos" sejam atingidos da melhor maneira possível?

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    1. Olá Juliane. Obrigada pela pergunta. Respondê-la faz surgir ainda, muitas outras indagações. É assim mesmo, pois o tema é pertinente.
      A formação continuada pode ser compreendida como uma bandeira de luta e reinvindicação dos profissionais da educação que se constrói mais especificamente a partir da segunda metade do século XX. Sua conquista está garantida na LDB em vigor e assenta-se em grande parte, na tese de melhoria do ensino em detrimento da qualificação docente. Isso é polêmico e necessita discussão. Penso que concordamos em muitos aspectos, mas gostaríamos ainda, de melhor compreensão da definição de formação continuada e das condições para que seja exercida.
      Muitas vezes, no anseio do cumprimento da legislação, secretarias municipais, estaduais ou o próprio Ministério da Educação, promovem cursos e eventos que pouco se relacionam às demandas da prática docente.
      Quanto ao voluntarismo do professor em relação à sua formação em serviço pode ser consequência até da opção, da identidade profissional e social que constrói, mas é também um direito que se firma e questiona a concepção institucional de formação. Se tratada como processo e que oportuniza a compreensão do professor como também um sujeito no contexto escolar, criam-se condições para que este próprio construa sua trajetória, defina suas prioridades, reconheça suas lacunas e trace os passos para que tipo de atuação deseja ter.

      Abraço
      Sueli de Fátima Dias

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  2. De que maneira a formação continuada poderia ser organizada de forma a contribuir para que o professores do Ensino Fundamental das séries iniciais pudessem ajudar o aluno a pensar historicamente mesmo sem ter a formação específica da disciplina?

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    1. Olá! Sua pergunta nos conduz a refletir também a formação específica do historiador/professor que pretende atuar nos Anos Finais do Ensino fundamental e Ensino Médio. Possivelmente apresente a mesma dificuldade.
      Quanto aos professores dos Anos Iniciais, especialmente aqueles com os quais fizemos interlocução e na continuidade de nossa pesquisa, destacaram a carência de formação continuada para a atuação nas aulas de história.
      Ressaltaram que o trabalho nessa disciplina exige domínios conceituais e tratos pedagógicos que passam prioritariamente pela formação específica do historiador.
      Um caminho prático poder ser oportunizar o diálogo entre as áreas e oferecer nos programas de formação continuada das secretarias a aproximação com as pesquisas relacionadas ao ensino de história. A prática da discussão contribui para diminuir as lacunas da formação, incentiva a pesquisa e a procura de alternativas.

      Abraço
      Sueli de Fátima Dias

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  3. Sueli e Mario,

    Gostei muito do texto de vocês! Particularmente essa é uma discussão que me toca, pois transito em ambas as áreas. Há uma série de questões que são suscitadas diante dessas reflexões que vocês trouxeram, mas vou me ater especificamente a duas.
    A discussão acerca da questão de profissionais não habilitados em licentuatura atuarem nas séries iniciais é seríssima, ainda mais se tratando da rede pública de ensino. No campo da pedagogia, observo muito debates sobre o magistério de nível médio e o de nível superior, mas confesso que essa situação de profissionais formados em outras áreas (não licenciados, portanto) me é nova. É necessário pararmos para pensar que concepções de infância e educação estão envolvidas na ideia de que uma formação específica é dispensável para o ensino de crianças. Uma curiosidade me surgiu aqui: De alguma forma, algum dos professores com quem vocês conversaram durante a pesquisa denunciou a atuação de colegas não licenciados?
    Minha segunda questão se relaciona ao interesse que o campo da história dispensa às discussões sobre ensino/educação. Vocês apontaram que a maior parte das pesquisas que se propõem a refletir sobre os processos de ensino da história nas séries iniciais são desenvolvidas em programas de Educação e não de História (inclusive esta pesquisa de vocês, que fala do lugar de formação em pedagogia) . Penso que uma observação também à oferta de temas de Simpósios Temáticos dos grandes eventos da área de história revela claramente que talvez essa não seja uma questão para grande parte dos colegas. Não sendo uma questão que mereça destaque, parece mesmo que os educadores das séries iniciais têm um desafio pela frente, mas que fique claro: esta não é uma responsabilidade individual, é uma necessidade que exige posicionamento coletivo, a meu ver, pois sem os instrumentos necessários, tanto materiais, quanto imateriais, fica difícil ensinar história sem reproduzir velhas incoerências conceituais, teóricas e até mesmo filosóficas (o que são as comemorações de "dia disso" e "dia daquilo" na Ed Infantil, não é?!). Penso que falta sim, ao campo da história, uma apropriação mais sistemática desse debate. A responsabilidade pelo que, nos anos iniciais, está sendo ensinado às crianças nas aulas de história é de ambos os campos, daí a importância desse diálogo.
    Em relação à formação continuada, penso que as universidades devem tecer diálogos constantes com as escolas por meio de atividades de extensão ou mesmo no interior de grupos de pesquisa. Há alguma iniciativa do tipo que tenha sido apontada pelos professores durante as conversas? Existe essa troca entre os professores e, por exemplo, a Universidade de vocês? Esse também é um abismo a ser superado e que tem tudo a ver com a aproximação entre a pedagogia e a história... universidade e escola têm de dar as mãos!
    Penso que também se insere aqui uma discussão sobre os "quadrados de cada um". Uma coisa é chamar atenção ao fato de que há profissionais não licenciados lecionando para crianças, outra bem diferente é perpetuar esse limiar moderno entre o que cabe na disciplina de um e o que cabe na disciplina do outro. Essa é, inclusive, uma questão muito discutida nas escolas, em especial no interior de projetos que propõem diálogo entre diferentes campos do saber. Penso que enquanto não entendermos os saberes que se dão na dinâmica da vida de forma conjunta, as conquistas advindas de parcerias serão sempre felizes exceções, infelizmente.
    Enfim, meu diálogo foi muito mais um papo (confuso, confesso!) diante do que o texto de vocês de suscitou do que necessariamente a formulação de perguntas. Por favor, fiquem à vontade para responder se e o que acharem que devem.

    Parabéns pelo texto!

    Caroline Trapp de Queiroz.

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    1. Olá Caroline.
      Papo necessário.
      É preciso sim diminuir as fronteiras e as iniciativas vem crescendo, pois já se torna perceptível o diálogo entre a pedagogia e a história. É processo e como tal, consequente de inúmeras variáveis.
      Quanto aos cursos de graduação...
      Professores podem ter ingressado com a exigência da formação em nível médio, especialmente nos editais anteriores à LDB. As secretarias municipais estão se adaptando e atendendo as exigências da legislação, pois encontramos, nesse estudo, professores cursando a 2ª graduação e em licenciatura.
      Abraço
      Sueli de Fátima Dias

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  4. A partir do levantamento de dados, e da observação sobre a prática, surgiu alguma evidência para questionar a realidade concreta da unidocência nos anos iniciais?
    Ass.: Leticia Trzaskos

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    1. Olá Letícia. Obrigada pela pergunta.
      A oportunidade de dialogar com professores é sempre momento muito importante porque nos põe diretamente em contato com quem efetivamente vivencia o cotidiano escolar.
      Também é momento que suscita inúmeros outros questionamentos, além daqueles que investigamos.
      Em nosso estudo a realidade do trabalho unidocente é um dos princípios norteadores. A abordagem da formação e atuação a partir do ensino de história serve como recorte representativo da formação e atuação desse profissional também para outras áreas.
      Dentre as evidências que mais se ressaltam está o questionamento da formação inicial, da organização e estruturação do exercício profissional nos Anos Iniciais e o desafio da formação continuada para atender as exigências do cotidiano contribuindo com a diminuição de lacunas e oferecendo apoio na construção da identidade docente.
      Abraço
      Sueli de Fátima Dias

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  5. Boa noite,

    Sou Historiador e trabalho no curso de Pedagogia da Faculdade Municipal de Palhoça, nas disciplinas História da Educação e metodologia do ensino de História. Percebo certa antipatia a disciplina por parte dos acadêmicos. Não consegui ainda identificar o porque dessa situação, se é pelo apreço à educação infantil e por isso não dar importância devida às metodologias, se por conta do sentimento de não se sentir preparados para a docência nos anos inciais, se pelo número reduzido de créditos para a disciplina ou se pelo excesso de importância dada a Língua Portuguesa e matemática. A minha pergunta é se durante a pesquisa houve menção a algum desses itens quando se respondia a respeito das dificuldades em ministrar a disciplina de história. Obrigado e parabéns!

    Jackson Alexsandro Peres

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    1. Olá Jackson. Obrigada pela pergunta. Intrigante.
      No desenvolvimento da pesquisa surgiram elementos relacionados à formação e atuação dos professores nos Anos Iniciais e assim como descrito foi nessas características que os nossos sujeitos mais se detiveram.
      Há interação desses aspectos com outros ainda anteriores ao curso de formação de professores, ou seja, os que hoje estão em serviço, assim como nós, foram os alunos da Escola Básica de ontem e também, em muitas vezes, reproduzem seus modelos.
      Observando o processo todos os elementos que você levanta, além da formação básica que tiveram e da relação e importância que atribuíram à disciplina de história em suas vidas pode nos ajudar a entender melhor a situação.
      Abraço
      Sueli de Fátima Dias

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  6. De que maneira a formação continuada poderia ser organizada de forma a contribuir para que o professores do Ensino Fundamental das séries iniciais pudessem ajudar o aluno a pensar historicamente mesmo sem ter a formação específica da disciplina? Vanderléia de Almeida.

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    1. Olá! Vanderléia. Sua pergunta nos conduz a refletir também a formação específica do historiador/professor que pretende atuar nos Anos Finais do Ensino fundamental e Ensino Médio. Possivelmente apresente a mesma dificuldade.
      Quanto aos professores dos Anos Iniciais, especialmente aqueles com os quais fizemos interlocução e na continuidade de nossa pesquisa, destacaram a carência de formação continuada para a atuação nas aulas de história.
      Ressaltaram que o trabalho nessa disciplina exige domínios conceituais e tratos pedagógicos que passam prioritariamente pela formação específica do historiador.
      Um caminho prático poder ser oportunizar o diálogo entre as áreas e oferecer nos programas de formação continuada das secretarias a aproximação com as pesquisas relacionadas ao ensino de história. A prática da discussão contribui para diminuir as lacunas da formação, incentiva a pesquisa e a procura de alternativas.

      Abraço
      Sueli de Fátima Dias

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